20 mil pessoas manifestam-se<br>em Lisboa para celebrar<br>o Dia Internacional da Mulher

MANIFESTAÇÃO Sob o lema «A voz das mulheres pela igualdade, direitos, desenvolvimento e paz», Lisboa acolheu, dia 11, uma marcha para dar voz aos problemas das mulheres.

É necessário ampliar a organização e a luta das mulheres

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Promovida pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), a manifestação, de âmbito nacional, iniciou-se no Rossio e terminou junto à Ribeira das Naus. Os mais de 20 mil participantes, na grande maioria mulheres, trouxeram para a capital do País as suas preocupações locais e nacionais.

À frente daquele mar de gente as percussões dos Karma Drums marcaram o ritmo. As palavras de ordem – «Somos muitos, muitos mil para continuar Abril» e «A luta continua. As mulheres estão na rua» – ecoaram, com grande intensidade, pela Rua do Ouro. Por ali desfilaram faixas e cartazes, empunhados com firmeza e olhos postos no futuro. O lema da acção abria o protesto, por entre vozes de luta, que clamavam: «A igualdade é a razão p'ra esta manifestação», «Pela paz, pelo pão, exigimos produção» e «Desigualdade social é flagelo nacional».

A seguir à representação da Federação Democrática Internacional das Mulheres (FDIM) estava a «Juventude em luta pela igualdade». «Não à precariedade» e «Emprego com direitos» eram algumas das suas reivindicações.

Seguia-se a Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes (CNOD), a Associação Portuguesa de Deficientes (APD) e a Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos (MURPI). Junto a uma outra faixa, onde se lia «Cumprir os direitos das mulheres. Igualdade na vida. Portugal mais justo e soberano», estavam Rita Rato, deputada na Assembleia da República, eleita pelo círculo eleitoral de Lisboa, Armindo Miranda e João Frazão, da Comissão Política do Comité Central do PCP, entre muitos outros camaradas.

Direitos

«Juntas pela igualdade, pelo trabalho, pela paz e pelo pão» estiveram as mulheres de Vila Franca de Xira, entre as quais Regina Janeiro, cabeça-de-lista da CDU à Câmara Municipal, mas também as mulheres de Lisboa, Amadora, Oeiras, Loures, Sintra, Palmela, Sesimbra, Seixal, Marinha Grande, Castelo Branco, Algarve, Santarém, Couço, Porto, Viseu, Portalegre, afirmando-se igualmente «Em luta pela contratação colectiva» e por «aumentos de salários».

De Peniche, «Contra a precariedade», vieram as trabalhadoras da ESIP. Outras, de vários pontos do País, como do Alentejo, apelaram «Não nos roubem o direito à saúde» e fizeram ouvir as suas vozes «Pela defesa da água pública».

De Beja veio «O cante alentejano no feminino», património da humanidade, que acompanhou a CGTP-IN, o Sindicato Nacional dos Profissionais dos Seguros e Afins, a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia, a Associação Geral das Mulheres Chinesas em Portugal, a Associação de Mulheres Africanas (PADEMA), o Manifesto em Defesa da Cultura, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a Associação Conquistas da Revolução, a Associação de Amizade Portugal-Cuba, a Comissão da CGTP-IN para a Igualdade entre Mulheres e Homens, a Associação das Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas, do Douro e Trás-os-Montes, a Ecolojovem, a Associação Portuguesa de Juristas Democratas e a Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto.

O percurso foi igualmente acompanhado por artes circenses e xarangas, exprimindo também daquela forma o valor da participação das mulheres na cultura.

Solidariedade

Frente ao Banco de Portugal estava uma delegação do PCP, bastante saudada pelos participantes, composta por Jerónimo de Sousa, Secretário-geral, Manuela Pinto Ângelo, Luísa Araújo e Paulo Raimundo, membros do Secretariado do Comité Central (CC), Fernanda Mateus, da Comissão Política do CC, João Ferreira, do CC, e Ana Mesquita, deputada à Assembleia da República.

Jerónimo de Sousa destacou o facto daquela ser, de há duas décadas para cá, «a maior manifestação de mulheres organizada pelo MDM», o que contraria a ideia de que os portugueses já não lutam nesta «nova fase da vida política nacional». «Aqui estão as mulheres a lutar pelos seus direitos próprios, que têm a ver com a sua profissão, a sua vida na família, na sociedade, para vencer preconceitos e discriminações», acentuou, concluindo: «Esta manifestação tem um grande significado».

João Ferreira, também primeiro candidato na lista da CDU à Câmara de Lisboa, referiu, por seu lado, que a «política de direita teve consequências devastadoras na vida do País», com as «mulheres a sentirem de forma particularmente dolorosa essas consequências» (o vídeo está disponível em www.facebook.com/CDULisboa). «Esta grandiosa manifestação foi um passo muito importante e bonito no longo caminho que temos de percorrer na luta pela igualdade na vida e no trabalho. Uma luta que é parte integrante da luta por um Portugal mais justo, desenvolvido e soberano. Essa luta continua», sublinhou.

Também Arménio Carlos, secretário-geral da CGTP-IN, expressou solidariedade «à luta das mulheres trabalhadores e à luta das mulheres portuguesas» e defendeu que «uma boa medida para combater as desigualdades é rever as normas gravosas da legislação laboral». «Não há uma democracia na sua total plenitude sem igualdade de direitos entre mulheres e homens», afirmou, considerando que a desigualdade de tratamento no trabalho constitui uma pressão para que haja «direitos nivelados por baixo».

Intervir

Enquanto continuavam a chegar mais e mais manifestantes, enchendo por completo a Ribeira das Naus, actuaram Vanessa Borges e Sofia Lisboa. O momento cultural encerrou com Maria Anadon e Rui Galveias, que interpretaram temas como «Barnabé», «Balada da Rita», de Sérgio Godinho, e «Tanto mar», de Chico Buarque, música que festeja a Revolução dos Cravos, em Portugal.

Na primeira intervenção, Sandra Benfica frisou que aquela estava a ser «grande manifestação», onde esteve bem presente «a voz das mulheres» para denunciar a «desigualdade» e a «discriminação» que «persiste e se aprofunda» e «nos afecta na família, no trabalho, no plano social, político e cultura», mas também «a sistemática violação dos nossos direitos enquanto mulheres, mães e trabalhadoras». Exigiu, por outro lado, o cumprimento de «direitos», «respeito» e «valorização do papel e estatuto social das mulheres do nosso País». Com os «mesmos objectivos» teve lugar, no mesmo dia, uma manifestação no Funchal, informou a dirigente do MDM.

Seguiu-se Cristina Simão, da FDIM e do Movimiento Democrático de Mujeres (Espanha). «Vocês não estão sós», afiançou, recordando que no passado dia 8, em várias cidades do país vizinho, mais de um milhão de mulheres manifestaram-se em defesa dos direitos das mulheres, o que suscitou um vibrante aplauso dos manifestantes.

Ana Souto, por seu turno, referiu que é «necessário» e «urgente» ampliar a luta das mulheres «pela exigência de um mundo de paz». «Juntamos a nossa voz à de todas as mulheres que lutam e aspiram a um mundo mais justo, digno, solidário, onde haja lugar ao sonho, onde as crianças possam ser crianças», declarou a dirigente do MDM, manifestando solidariedade com as mulheres da América Latina – «onde são conhecidas as investidas do imperialismo para derrubar as legítimas forças democráticas, progressistas e ou revolucionárias» – do Saara Ocidental, do Médio Oriente e da Palestina.

Reivindicar

A encerrar os discursos falou a dirigente do MDM Regina Marques, para quem aquela manifestação deixou uma «certeza»: a de que «é necessário ampliar a organização e a luta das mulheres na exigência do cumprimento dos seus direitos e por um mundo de paz, unindo e reforçando os laços entre todos nós, e também os laços de solidariedade com as mulheres do mundo».

Prometeu ainda levar as reivindicações ali expressas aos órgãos de poder, «porque não basta a igualdade na lei, importa-nos fazer cumprir a igualdade na vida». «Exigimos o combate às assimetrias regionais e à desertificação do interior, a não privatização de serviços e bens essenciais como a água e o tratamento de resíduos, bem como os transportes, a saúde, o ensino, para que todos – portuguesas e portuguesas – se sintam igualmente tratados e reconhecidos», sublinhou, reclamando também «a dinamização da produção nacional como condição para criar mais riqueza, mais postos de trabalho, permitindo a inserção das mulheres na vida activa e no tecido produtivo».

Regina Marques disse ainda que é preciso «sonhar» e «ir mais longe». «Temos a consciência de que o mundo não parou, a história não acabou e que a transformação da sociedade numa sociedade mais humana depende da vontade, da determinação, da luta, da força organizada das mulheres. Uma sociedade onde todas e todos caibam com dignidade e a emancipação das mulheres seja uma realidade», acentuou, prometendo que no próximo ano «celebraremos o Dia Internacional da Mulher, uma vez mais, em luta, com a realização de uma nova manifestação nacional».